sábado, novembro 29, 2003

POWERPOINT: Já não há conferência, simpósio ou painel em que os palestrantes não se façam acompanhar daquilo que consideram o último grito da tecnologia - o "Powerpoint"!
Sentem-se seguros e actualizados, na companhia do seu portátil. Então assistimos a todo um festival de som e imagem que, de tão sortido, lhes anula a eloquência e lhes consome a sapiência.
Causa dó ver experientes e já entradotes professores universitários tornarem-se escravos das novas tecnologias, sobretudo quando o resultado mais visível é assistir a uma plateia adormecida, a pairar em paragens bem longínquas e alheias ao que se passa, embaladas pelo feérico jogo de som e imagem. Só acordam, num sobressalto, quando finalmente se faz silêncio e as luzes voltam ao normal, para, atabalhoadamente, bater as palmas de circunstância.

terça-feira, novembro 25, 2003

RABO AO LÉU: No "DN" de hoje, João Miguel Tavares e Pedro Lomba, dois jovens da geração "rabo ao léu", vêm agora provar ao mundo como singraram na vida e como a triste fatalidade preconizada para a sua geração não se concretizou. Pelo caminho deixam cair a sua pretensa superioridade sobre esta dos "cadeados". O que mais me impressiona nestes jovens colunistas do "DN" é a postura inchada com que falam dos outros, a vitimização e o tom heróico com que falam de um passado recente que, bem vistas as coisas, em pouco ou nada difere do actual.

Leiam só isto:

"Eu ainda assisti a aulas onde no Inverno chovia em cima das mesas; ainda aturei secretarias onde a incompetência e a prepotência eram as palavras de ordem; ainda tive de dormir em quartos bafientos devido à inexistência de residências; ainda vi e sofri praxes que eram actos de pura humilhação dos mais fracos; ainda digeri refeições que causavam síncopes nas minhas papilas gustativas; ainda aturei professores que eram museus intelectuais itinerantes, expondo incessantemente os três livros que leram na década de 60".

O jovem parece um ancião de 90 anos a falar!

Sempre me causou alguma impressão tanto a "geração rasca" como a actual "geração mimada". Não pela irreverência, mas pelo manifesto mau gosto, pela arrogância e pela irresponsabilidade.

quarta-feira, novembro 19, 2003

TARAMELAR: Impressionou-me a explosão que se verificou na blogosfera. Só encontro explicação para este fenómeno na vontade inaudita que todos temos de falar e comunicar, fazer-nos ouvir a qualquer custo.
Mário de Carvalho, no seu último livro "Fantasia para dois coronéis e uma piscina", descreve bem esta necessidade de taramelar. Não sei se ele lê alguns blogues, pois aquilo que ele escreveu foi a pensar certamente nos telemóveis. Mas, ao ler a sua prosa, estabeleci inevitavelmente a analogia com aquilo que se passa na blogosfera. Fica aqui um cheirinho do que diz Mário de Carvalho:

Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, emsembles, coros. Desde os píncaros de Castro Laboreiro ao Ilhéu do Monchique fervem rumorejos, conversas, vozeios, brados que abafam e escamoteiam a paciência de alguns, os vagares de muitos e o bom senso de todos. O falatório é causa de inúmeros despautérios, frouxas produtividades e más-criações. Fala-se, fala-se, fala-se, em todos os sotaques, em todos os tons e decibéis, em todos os azimutes. O país fala, fala, desunha-se a falar, e pouco do que diz tem o menor interesse. O país quer aturdir-se. E a tagarelice é o meio de aturdimento mais à mão.

sábado, novembro 15, 2003

NÃO NOS RETIRAREMOS: Como que para tranquilizar os espíritos mais inquietos, que, como eu, manifestavam a preocupação sobre uma precipitada retirada americana do Iraque, Bush assegurou, em entrevista ao "Financial Times" - "Não nos retiraremos até o nosso trabalho estar feito".
Fico mais descansado!

sexta-feira, novembro 14, 2003

MENINO NOS BRAÇOS: Do que atrás ficou dito sobre o Iraque, depreende-se que toda a presente situação tem como principal responsável os EUA e, desta forma, sempre me senti tentado a afirmar, como muitos, 'eles agora que resolvam o imbróglio'. Como, porém, os EUA ainda tiveram a solidariedade de alguns países na sua acção, entre os quais Portugal, também estes têm as suas obrigações neste processo. É neste contexto que defendo a participação portuguesa.
Começam sub-repticiamente a circular rumores que os EUA preparam uma debandada das suas tropas no Iraque, devido aos problemas eleitorais que a sua permanência possa provocar à candidatura do actual presidente. A confirmar-se estes rumores, que espero não passem disso mesmo, defendo com a mesma veemência que todos os outros países retirem igualmente as suas forças, pois não há solidariedade que obrigue a estes ficarem com o menino nos braços.

quinta-feira, novembro 13, 2003

IRAQUE: Um leitor estranhou a minha opinião, expressa no 'post' anterior. Pelos rótulos que me têm sido colocados julgo dever explicar sucintamente a minha posição sobre o problema iraquiano.
A intervenção americana no Iraque fez-se à revelia de um grande consenso internacional. Fez-se com base em pressupostos que até hoje se revelaram infundados, como a posse de armas de destruição maciça e a ligação à Al-Qaeda do poder político iraquiano.
As provas eram tão ocas que o pretexto soou a falso. A verdadeira razão era apenas preventiva, por mais voltas e negações que os falcões de Washington proclamassem.
A guerra, no entanto, fez-se! E com mais facilidade do que poderíamos imaginar. Teve, desde logo, um resultado nada desprezível que foi a queda do ditador Saddam.
Saber o que fazer com o Iraque foi o problema seguinte e este adivinhava-se bem mais difícil de resolver.
As dificuldades de estabilização tornaram-se evidentes desde o primeiro momento e têm-se agravado até agora.
Mas, justamente por isto, este é o pior momento para abandonar o Iraque à sua sorte, pois uma retirada resultaria inevitavelmente num banho de sangue, em que todos aqueles que fossem apelidados de colaboradores com as forças ocupantes seriam certamente perseguidos e massacrados.
A retirada seria encarada como uma milagrosa vitória sobre a hiperpotência mundial e, por extensão, uma vitória sobre todos os infiéis. Neste contexto, o terrorismo não poderia ser melhor recompensado. As tenebrosas figuras de Ossama Bin-Laden e Saddam Hussein tornar-se-iam um ícone para todos os extremistas e daria um alento redobrado a todos aqueles que defendem a 'jihad'. A Al-Qaeda não poderia ter melhor publicidade para engrossar as suas fileiras.
Estas são, para mim, razões mais que suficientes para que não haja qualquer cedência, nem qualquer recuo na imperiosa necessidade de estabilizar o Iraque.

GNR NO IRAQUE: A decisão tomada pelo nosso governo, de enviar homens para o Iraque, foi consentânea com o assumir de forma clara e inequívoca um alinhamento com os nossos aliados tradicionais. Este alinhamento foi objecto de discussão e crítica e outra coisa não seria de esperar numa sociedade aberta e plural.
Também não seria de esperar que a oposição facilitasse a vida ao governo, neste momento particularmente crítico, em que o dia de partida das forças da GNR coincidiu justamente com o primeiro atentado de grandes dimensões em Nassíria, o destino das nossas forças. Contudo, também acho que este não é o momento para a oposição fazer uma espécie de chantagem emocional com o governo, como que aguardando morbidamente a oportunidade de culpabilizar este pelos incidentes que possam resultar desta intervenção.
Certamente que o governo tomou neste momento uma decisão dificílima, pois evidentemente não ignora que a nossa força vai actuar num palco de inomináveis perigos. Mas, um recuo agora significava uma descrença, uma tibieza na convicção com que assumiram esta causa. Por muito que isto possa ser irrelevante para alguns, julgo correcta a actuação do governo.
Assim, resta-me desejar as maiores felicidades à missão portuguesa!

quarta-feira, novembro 12, 2003

HIPERKINÉTICO (2): Há aqueles que não resistem à erosão do tempo. Parece-me ser o caso do "Abrupto".
Depois de todos nos termos deleitado com a pujança e o gosto pela vida do deputado José Pacheco Pereira nos primeiros meses do "Abrupto", este cada vez mais utiliza o seu blogue para transcrever os já insuportáveis "EARLY MORNING BLOGS" (que certamente ninguém lê), as imagens por vezes desinteressantes e fora de qualquer contexto e o blogue feito pelos leitores - um privilégio que todos, inconfessadamente, gostaríamos de ter :)
Cada vez temos mais lastro e menos Pacheco Pereira...
Infelizmente, isto é inevitável!

terça-feira, novembro 11, 2003

HIPERKINÉTICO: O termo "Hiperkinético" 'surripiei-o' de um artigo do "Clarin.com" sobre blogues. É o termo que procurava para designar aqueles que pela abrangência da temática e pela torrente de 'posts', têm, na blogosfera, uma actividade frenética.
No fundo, desejaria também ser um "hiperkinético", mas, só de o imaginar, esvai-se-me logo o fôlego. O tempo não sobeja, a disponibilidade não abunda e a vontade de escrever é demasiado caprichosa para nela podermos confiar.
Por isso, ainda mais admiro a figura do "hiperkinético", principalmente aqueles que resistem.

domingo, novembro 09, 2003

FERRO RODRIGUES (2): Depois dos vários ataques e acusações de que tem sido alvo, Ferro Rodrigues ainda conseguiu aguentar-se de forma resoluta e enérgica na Comissão Nacional.
Esta capacidade de resistência é notável!

Mais virtudes não houvesse...:)

Adenda: É também notável a análise feita ao PS, por António Barreto, no último parágrafo da sua crónica no "Público".

sábado, novembro 08, 2003

FERRO RODRIGUES: Não há duas sem três. Levantou-se a suspeita sobre Ferro Rodrigues na responsabilidade (ou irresponsabilidade) das obras do Metro. Surgiu o seu nome envolvido no tenebroso processo da Casa Pia, deixando o homem e o líder absolutamente combalido. Ainda não tendo recobrado na íntegra a posição vertical, aparece novamente o seu nome relativamente a irregularidades graves na criação das lojas de solidariedade, no período em que era ministro dessa pasta.
Das duas uma, ou o homem é o maior salafrário que alguma vez ascendeu a líder ou então é realmente uma vítima de uma tentativa de assassinato político, de personalidade e do bom nome, jamais visto no nosso país.

sexta-feira, novembro 07, 2003

COINCIDÊNCIAS: O meu émulo afirma que foi uma coincidência adoptar o mesmo nome e o mesmo template, pois desconhecia este blogue.
Admito que sim! Estranho é estabelecerem links a blogues que por sua vez têm link para este. Mas coincidências existem...
De fugida insinua que eu também me apropriei do nome Satyricon para o blogue, pois já existia um endereço http://satyricon.blogspot.com.
Pois já, e a primeira coisa que eu fui ver, quando criei este blogue, foi o que continha esse endereço e convido todos a seguir o link e ajuizar por si próprios.

Já fiz referência a isto anteriormente (ver post no arquivo), julgo que é por demais evidente que a insinuação vale o que vale.

SATYRICON: Já não há vergonha! Descobri, por mero acaso, que na blogosfera lusa surgiu recentemente um outro Satyricon!?
Não contente com o facto de ter o mesmo nome, tem também o mesmo template deste já vetusto blogue. Será que o meu apócrifo émulo não é bafejado pelas mais elementares regras de civismo e boa educação?
Já vi surgir "Abruptidades" e coisas afins, mas um blogue adoptar descaradamente o nome de outro blogue é para mim inédito...!

quinta-feira, novembro 06, 2003

MARIA ELISA: O caso de Maria Elisa tornou-se paradigmático da mais despudorada e inconcebível falta de ética de alguma da nossa classe política, que apenas vê nos cargos para que foram eleitos uma plataforma para as mordomias das suas frívolas existências.
Maria Elisa representa na perfeição este espécime, cujo sentido da vida passa, necessariamente, pelos encontros com celebridades, viagens e estadias em hotéis luxuosos. Em suma, desfrutar do aroma do requinte.
Tudo para pôr aquele irresistível ar négligé quando refere estas vivências.
O cargo para o qual agora foi nomeada - conselheira da Embaixada em Londres - assenta-lhe como uma luva e, contrariamente ao nosso Manuel, acho que todos ficamos a ganhar com esta decisão.

quarta-feira, novembro 05, 2003

DÉFICE: O orçamento do Estado para 2004, volta a colocar a tónica no controlo do défice orçamental. Mas, em vez de combater acerrimamente a evasão fiscal e a corrupção, para controlar este défice, mais uma vez corta no investimento, sendo responsável pela manutenção e agravamento de uma crise e de um desalento, sem paralelo nos últimos 20 anos da nossa história.
Transcrevo as palavras de António José Teixeira, na sua última crónica para o Diário de Notícias: (...)em Portugal nem se investe nem se faz consolidação orçamental. Não há receita. Não conseguimos inteirar o que falta. É esse o défice. Défice de capacidade para estimular a economia, défice de capacidade para racionalizar as funções do Estado, défice de capacidade para cobrar os impostos, défice de capacidade para servir o interesse público.

Curiosa é a solução de alguns dos nossos liberais da blogolândia que recomendam mais cortes na despesa. Só gostaria de saber, concretamente, em que despesas é que cortavam...
Será que sugerem despedimentos na função pública (a panaceia para tudo)? Ou cortavam mais na saúde? E porque não na educação?

terça-feira, novembro 04, 2003

DEBANDADA?: A crescente hostilidade que se verifica no Iraque, especialmente em Bagdade, tem provocado algumas reacções que mais parece uma debandada, como foi o caso de todo o pessoal diplomático e peritos espanhóis que se retiraram para a Jordânia. É certo que o governo espanhol designa a situação como uma chamada para intercâmbio de opiniões (que subtil é a linguagem diplomática). O eufemismo, no entanto, não esconde aquilo que, com o agravar da situação, se vislumbra no futuro, um abandono do povo iraquiano à sua sorte.

SABOREAR O MOMENTO: O meu velho amigo Valdemar resolveu habitar a blogolândia com o seu "Ao Sabor do Momento".
Desejo-lhe felicidades e que saboreie bons momentos na nossa companhia.

domingo, novembro 02, 2003

PANTEÃO: Ao contrário de Francisco José Viegas, já tentei ler um livro do Harry Potter. É daquelas experiências inesquecíveis, não por qualquer marcante imaginário mas pelo previsível mundo a preto e branco que representa. As personagens não possuem qualquer densidade, são meros recortes caricaturais, de uma pobreza inenarrável, até para um público infantil. Para mim, continua a ser um mistério insondável o sucesso desta saga...
Apesar de tudo isto, não me chocou o lançamento do último Harry Potter no Panteão. É o lançamento de um livro e não é despiciendo o facto de acorrerem crianças que sofregamente irão adquirir e ler um volume de 800 páginas, de má escrita, é certo, mas que poderá ser um princípio para mais tarde enfrentar, sem receio, outros calhamaços bem mais substanciais.