A intervenção americana no Iraque fez-se à revelia de um grande consenso internacional. Fez-se com base em pressupostos que até hoje se revelaram infundados, como a posse de armas de destruição maciça e a ligação à Al-Qaeda do poder político iraquiano.
As provas eram tão ocas que o pretexto soou a falso. A verdadeira razão era apenas preventiva, por mais voltas e negações que os falcões de Washington proclamassem.
A guerra, no entanto, fez-se! E com mais facilidade do que poderíamos imaginar. Teve, desde logo, um resultado nada desprezível que foi a queda do ditador Saddam.
Saber o que fazer com o Iraque foi o problema seguinte e este adivinhava-se bem mais difícil de resolver.
As dificuldades de estabilização tornaram-se evidentes desde o primeiro momento e têm-se agravado até agora.
Mas, justamente por isto, este é o pior momento para abandonar o Iraque à sua sorte, pois uma retirada resultaria inevitavelmente num banho de sangue, em que todos aqueles que fossem apelidados de colaboradores com as forças ocupantes seriam certamente perseguidos e massacrados.
A retirada seria encarada como uma milagrosa vitória sobre a hiperpotência mundial e, por extensão, uma vitória sobre todos os infiéis. Neste contexto, o terrorismo não poderia ser melhor recompensado. As tenebrosas figuras de Ossama Bin-Laden e Saddam Hussein tornar-se-iam um ícone para todos os extremistas e daria um alento redobrado a todos aqueles que defendem a 'jihad'. A Al-Qaeda não poderia ter melhor publicidade para engrossar as suas fileiras.
Estas são, para mim, razões mais que suficientes para que não haja qualquer cedência, nem qualquer recuo na imperiosa necessidade de estabilizar o Iraque.
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