Satyricon

CULTURA POLÍTICA: Soares tem razão num ponto, qualquer líder político (ou candidato presidencial) deveria ter um limiar mínimo de cultura política. Tentar insinuar a inaptidão de Cavaco Silva, por falta de cultura política, parece-me excessivo, pois este nunca se propôs fazer alarde dessa mesma cultura e se as suas intervenções pecam por escassas, não deixam ficar mal quem as profere.
Já o mesmo não se pode dizer do líder do CDS/PP. José Ribeiro e Castro perde por falar, porque quando se atreve a discorrer sobre política e história, o chorrilho de disparates é tal que faria corar de vergonha qualquer 'zé povinho' que ao balcão de uma taverna se proponha fazer uma incursão neste campo. Dizer, sem pestanejar, que os grandes flagelos do século XX se deveram ao marxismo/leninismo e culpar este do actual terrorismo internacional é - mais do que uma estultice - de uma ignorância angustiante.
Só a título de exemplo, como é possível termos um líder partidário que se propõe falar dos males do marxismo/leninismo, no século XX, e se esquece do nazismo e do fascismo?

NOVAMENTE SOARES: Mário Soares já se convenceu da derrota. O seu agastamento e enfado provam-no.
Mal aconselhado e despeitado, sem compreender a ingratidão do povo que o devia levar nos braços, assume desesperadamente a ofensiva nos debates com os outros candidatos, tentando inverter o curso dos resultados ou, pelo menos, vender cara a derrota.
Esta postura tem, contudo, um senão. Torna-o mais quezilento e esboroa o que resta do antigo encanto da figura.

DIPLOMACIA: Para que serve a nossa diplomacia?
Sempre que existe alguma situação preocupante, que envolva cidadãos portugueses no estrangeiro, o relato de quem necessita de recorrer aos consulados, ou embaixadas portuguesas, é invariavelmente o mesmo - total falta de apoio e orientação!
Só para citar os casos mais recentes, recorde-se o maremoto na Ásia, o piloto português na Venezuela ou, mais recentemente e chocante, o caso dos portugueses explorados quase até à escravidão na Holanda...
É sabido que no nosso país o mau funcionamento é universal, mas os serviços diplomáticos portugueses excedem tudo o que é admissível.
Lá longe, distante de qualquer controle, a desfaçatez é total. Limitam-se a usufruir do emprego obtido, em grande parte dos casos, através do melhor empregador deste país - a cunha!
Nem sequer disfarçam a mais absoluta má vontade e incompetência. É com o apoio destas criaturas que os mais que fragilizados cidadãos portugueses têm de contar, quando estão completamente desarmados nos países em que muitas das vezes não conhecem a língua, os hábitos e os costumes.

EUROPA: Subitamente a CE viu-se alargada a 25 países, com todos os novos países famintos de fundos e apoios, que a velha Europa manifestamente não pode dar. A barafunda instalada era mais do que previsível.
Estamos a assistir ao resultado dos ideais românticos comandarem a política, em vez do necessário realismo.

DISTENDIDO: A frequência dos debates está a dar algum traquejo àqueles que habitualmente não se sentem muito à vontade nestas lides.
O caso de Cavaco Silva é o mais flagrante. A sua tensão, rigidez e comedimento inicial está a ceder, dando lugar a uma figura mais distendida, que até já graceja!
O debate de ontem foi-lhe claramente favorável, mas a descontracção comporta maiores riscos...

DEBATES: Já aqui afirmei que gosto imenso de ouvir os velhos. Mesmo os analfabetos acabam por ter uma linguagem rica, quer verbal, quer gestual, descritiva e prolixa nos pormenores. Em oposição a esta, temos a linguagem da nossa juventude, paupérrima, cada vez mais circunscrita a mnemónicas.
Esta é sem dúvida uma das razões porque gosto de ouvir Mário Soares.
Continuo a achar que ele fez a maior asneira de toda a sua já longa vida ao candidatar-se à presidência da República. Mas, apesar de tudo, gosto de o ouvir... Ele troca as palavras, engasga-se, mas nunca temos dúvidas de que nos está a querer dizer algo de seu e não a fileira de clichés que é normal ouvir nos outros políticos, que só encontram rival na linguagem do 'futebolês'.
O debate de ontem, apesar de ameno, foi agradável de seguir, contrariamente ao da semana passada que serviu de abertura aos debates entre candidatos presidenciais.

TORTURA 'soft': Segunda a televisão americana ABC, as "técnicas elevadas de interrogatório" em uso abrangem coisas como a bofetada, a privação de sono, estar de pé 40 horas (em português antigo, "estátua"), ficar nu numa cela gelada, a simulação da asfixia ou afogamento (água na cara envolta em celofane)...

in "Público", 2005/12/09

Porque será que não vejo os tradicionais defensores da Administração Bush condenarem veementemente estas práticas?

Assobiam para o ar, atropelam-se nas palavras sobre outros assuntos mais comezinhos, a fim de desviarem a atenção da sua pessoa...

CAÇA: “Os guardas abriam a jaula e os caçadores disparavam, mal o animal saía. Logo posavam com ele. Depois decapitavam-no e tiravam-lhe a pele.”
Este é o relato de uma caçada a um tigre, algures próximo de Badajoz. Parece que esta 'heróica' actividade era muito apreciada por caçadores de várias nacionalidades.
Portugueses ricos também não faltavam, é claro. É que este inebriante desafio custava mais de 35.000 euros...
Intriga-me a monstruosidade que a natureza humana é capaz de produzir, e esta já provou não ter limites na sua crueldade e bestialidade, mas mantenho ainda a minha capacidade de indignação e absoluta surpresa perante mais esta tristíssima demonstração de baixeza moral!