Satyricon

PASTILHA ELÁSTICA: É absolutamente inqualificável a imagem do ministro da Defesa, Paulo Portas, a mascar pastilha elástica na parada militar das comemorações do 25 de Abril.
Será que a criatura não compreende que essa imagem não joga com a pose de Estado que ele tão afanosamente procura dar?
Caso a pastilha elástica tivesse uma intenção provocatória e encerrasse algum desprezo pelo dia que se estava a comemorar, então é muito mais grave. Definitivamente, Portas está a colocar-se ao lado da direita mais iletrada e trauliteira, felizmente em declínio na nossa sociedade.
Este acontecimento chocou-me muito mais, pela deselegância, má-criação e possível significado simbólico, do que a estéril e estúpida polémica do "E" e do "R".

”APITO DOURADO”: Como todos, fiquei surpreendido com a operação “Apito Dourado”. Tinha todos os ingredientes para se tornar no novo folhetim dos telejornais.
Quando, porém, afloraram as acusações que pendem sobre o mais mediático dos detidos, desiludi-me.
Compreende-se a calma e o sorriso do Major Valentim!

ZAPATERO: Recentemente critiquei Zapatero por ter anunciado a retirada dos militares espanhóis do Iraque, pois poderia confundir-se uma promessa eleitoral com a cedência ao terrorismo, após os atentados do 11-M.
Mais critiquei, porque sempre julguei que essa retirada nunca acabaria por se concretizar. Que se iria encontrar uma saída diplomática airosa para ninguém perder a face.
Mas, surpreendentemente, Zapatero não se refugiou nas teias de compromissos e dependências internacionais e atreveu-se a falar alto num mundo em que todos sussurram.
Temos Homem!

SARAMAGO: Ainda não percebi o que levou Durão Barroso a encenar a reconciliação com Saramago.
O que o Governo de Cavaco fez ao escritor (pela acção daquela figura sinistra que dá pelo nome de Sousa Lara) foi inqualificável. Porém, esta reconciliação é de tal forma extemporânea que não se compreende o gesto do primeiro Ministro.
Durão Barroso tem revelado uma preocupante e incompreensível falta de discernimento...!?

INCENTIVO À CIÊNCIA: Recebi com agrado as primeiras notícias que anunciavam uma preocupação do nosso Governo em incentivar o regresso dos 'cérebros' portugueses, que se encontram a trabalhar no estrangeiro.
Hoje constatei que a medida não tem rigorosamente nada de sério e serve apenas para fins propagandísticos, como muitas das 'medidas inovadoras' deste Governo.
Os critérios são tão apertados que nem os nossos mais eminentes cientistas - como António Damásio - têm «currículo» para preencher os requisitos necessários para beneficiar destas medidas (ver “Jornal de Notícias”).
Esta política do 'faz de conta' revela uma desonestidade e má-fé que só pode causar a maior das repulsas e provocar exactamente o efeito oposto daquilo que se propõe.

OLIVENÇA: Do “Grupo dos Amigos de Olivença” recebi a seguinte nota informativa que passo a divulgar:


Grupo dos Amigos de Olivença
www.olivenca.org


Nota Informativa 04-2004


Passam, hoje, 193 anos sobre a data em que Olivença, pela última vez, viu ondear nas suas muralhas – soberana – a Bandeira Portuguesa.
Naquele 15 de Abril de 1811, decorria a Guerra Peninsular, tropas portuguesas do exército luso-britãnico levam de vencida as forças napoleónicas que anteriormente tinham desalojado da Praça o ocupante espanhol e, guarnecendo-a com soldados da 9.ª Brigada, restauram a soberania de Portugal.
Todavia, no mesmo dia, Beresford, comandante das forças anglo-lusas, cumprindo ordens de Wellesley (Duque de Wellington), apesar dos protestos das tropas portuguesas e perante o desespero dos oliventinos, determina a entrega da Praça às autoridades espanholas.
Aos oliventinos, continuando a ser portugueses na reserva dos seus corações e no recato dos lares, restou-lhes aguardar por Justiça.
Aos demais portugueses resta-lhes, sempre, exigir Justiça!

Lx., 15 de Abril de 2004.

INFORMAÇÃO ACCIONÁVEL: Bush negou ter qualquer “informação accionável”, que fosse susceptível de o impulsionar a uma tomada de decisões para evitar o 11 de Setembro.
Por muito pouco que simpatize com o presidente americano, concedo-lhe toda a razão neste ponto. A julgar por todos os alertas e alarmes que surgiram depois do 11-S e que já ninguém se atrevia a não levar a sério, apesar de invariavelmente (e felizmente) redundarem em nada, temos uma ideia de que os serviços secretos americanos são de tal forma prolixos neste tipo de alertas e avisos que o melhor é esperar para ver se surge algo de mais substancial.
É evidente que no caso 11 de Setembro tudo correu mal, mas é fácil criticar à posteriori.

“MODA LISBOA”: A SIC Notícias passou uma reportagem sobre a «Moda Lisboa», no passado Sábado. A entrevistadora, ao deambular pelos convidados e participantes, fez jus à fama do Criador, de que fez a natureza humana tão diversa, com extremos tão opostos e aberrantes, que nem as mais carregadas caricaturas conseguem aproximar-se de tamanha diversidade. Como é possível existir, no mundo real, figuras como José Castel Branco, Lili Caneças ou Ana Salazar (não, não me enganei nesta última). Nem o cineasta mais delirante ou cómico mais inspirado conseguiria criar figuras deste calibre. E, caso o conseguissem, não seriam levados a sério, pelo absurdo da criação. Daí que eu pasme com esta realidade!
Para além destes extremos da criação, todo aquele triste e fútil mundo do 'jet set' e da moda corresponde de forma tão espampanante aos estereótipos estabelecidos que me custa crer ser possível que se levem a sério.

BLOGUES: É impressão minha ou os blogues estão em franca decadência?

LUCIDEZ: José Saramago está a conseguir aquilo que queria, andar nas bocas do mundo!
Ainda não li o seu último livro, porém duvido que mereça a publicidade que lhe estão a dar.
Se a proposta e a provocação de Saramago não tem valor, nem é original, como aos quatro ventos se anuncia, o melhor que se poderia fazer era ignorá-lo por completo.
Apesar de admirar Saramago, esta seria uma lição pedagógica para o escritor.

OLHA PARA O QUE EU DIGO...: Os mesmos membros do Governo, que a reportagem da TVI seguiu e mostrou praticarem quotidianamente um ror de atropelos e infracções ao Código da Estrada, atropelos esses de fazer parecer um menino de coro o mais indefectível dos transgressores, preparam-se agora para, do alto da sua impunidade, agravarem as multas do Código da Estrada. Para os outros... é claro.
Como dizia uma das ministras, apanhada com a boca na botija, a propósito: “Falta civismo aos portugueses”.
Pois falta, a começar por si! Ou será que a culpa é dos motoristas dos ministros?

ALARGAMENTO DA NATO: A NATO estende-se orgulhosamente até à Rússia, num aperto claustrofóbico, ao englobar países que faziam parte da ex-União Soviética.
É certo que os objectivos da NATO não são os mesmos que presidiram à sua criação, mas qualquer leitura elementar da História Universal recomendaria prudência e pouco gáudio com esta situação, que, apesar das apregoadas boas intenções e objectivos de ocasião (combater o terrorismo) não deixa de ser humilhante para a Rússia.
Oxalá não venhamos a pagar caro tudo isto...