Satyricon: 06/01/2003

BLOG DE ESQUERDA (2): Vá lá, o “Blog” ainda teve ânimo para se defender de um ataque en passant do “Abrupto”. Só que, mais uma vez, através do mais famoso dos itálicos. Quando é que eles assumem de vez o blogue?

BLOG DE ESQUERDA: Verifica-se um indizível definhar do “Blog de Esquerda” desde que o seu rival de estimação, a “Coluna Infame”, se finou. Só parece confirmar que a existência do “Blog de Esquerda” estava intrinsecamente ligada à “Coluna” e finita causa, cessat effectus.
Este desalento agravou-se com o ataque alvar e significativamente sem reacção de PRD (não José Mário, a resposta vinda no último DNA continua cabisbaixa e frouxa).
O “Blog de Esquerda” está cada vez mais ocupado pelos itálicos de serviço, que só se lêem com um enorme bocejo e imensa boa vontade. Deixou de reagir, logo agora que a blogosfera está, mais que nunca, tomada de assalto pela direita bem pensante.

ANONIMATO: A blogosfera parece que está toda para banhos e, do que me é dado a ver (ler), quase nada merece um comentário. O que revolteia de vagamente interessante são as opiniões relativas ao anonimato.
Se eu fosse uma figura pública e não um qualquer José Xavier, é evidente que não poderia manter um blogue destes. Limitar-me-ia a discorrer como são belos os passarinhos na primavera e outras trivialidades semelhantes. Não quero com isto dizer que não existam interessantes blogues de figuras públicas. É claro que existem. Mas, com toda a certeza, estes sentem-se condicionados a ser aquilo que todos esperam deles.

“CUIDADO COM A PUTA DA DIREITA”: Agora sabemos, pela boca de Pedro Mexia, porque é que a “Coluna Infame” acabou...

DOCE INGENUIDADE: No “Conversas de Café” temos as mais doces ingenuidades da blogosfera, que só poderiam vir do feminino. Então, a mais recente pérola é esta:

“Quem lê blogs, não o faz apenas porque é de "A" ou "B". A divulgação dos weblogs também não tem de ser feita nos media. Não é porque o blog X não surge nos media que ninguém o lê. Na Internet, as dinâmicas são outras. Muito diferentes dos meios tradicionais.”

Cara Inês Amaral, sabe dizer-me porque é que o “Abrupto” teve 50.000 visitantes num mês?

Será que acredita, ainda que vagamente, que teria o mesmo número de visitantes, caso o Pacheco Pereira colocasse exactamente os mesmos artigos, mas sob um pseudónimo que ninguém conhecesse?

E que dizer do “Aviz”? Alguém teria dado pela existência dele, caso não fosse faustosamente anunciado como o blogue do Francisco José Viegas?

Já para não falar dos inúmeros artigos da imprensa sobre blogues, que quando se trata de referir nomes, somando todos os artigos, eles não ultrapassam a dezena. Das várias centenas, só estes é que se aproveitam?

E, por acaso, é apenas coincidência que desta dezena, a grande maioria sejam blogues pertencentes a jornalistas, ou figuras do domínio público?

TEXTOS DO NOSSO EDITOR: O nosso editor na blogosfera do “Textos de contracapa”, aquele que bateu com a porta, mas regressou ao primeiro canto da sereia, anda preocupado com a sua actividade, com a ameaça dos “livros brancos”, apreensivo com o controlo de qualidade desses livros.
Só não percebi é se ele quer que o Estado intervenha na defesa do património cultural ou da sua actividade...

LI E GOSTEI: No mundo pretensamente tolerante em que vivemos, é de bom tom aceitarmos a diferença dos grupos minoritários, mesmo daqueles grupos folclóricos que nas sociedades contemporâneas pululam com gáudio, como a Opus Gay.
Quem se atreva a esboçar a mais leve crítica é apelidado, no mínimo, de homófobo.
Gostei de ler o post # 45 do blogue “Guerras e Pas”.
As palavras que li e gostei no “Guerra e Pas ” fizeram-me lembrar as palavras de um amigo que dizia: “Aceito os homossexuais, até tenho amigos homossexuais, não gosto é de paneleiros!”

Entre uma coisa e outra, há mais diferença do que simples palavras...

E PUR SI MOVE: Com o silêncio quase forçado do “Abrupto”, receei que a Blogosfera esmorecesse, porque não mesmo, paralisasse, pois faltavam as directrizes do “Grande Líder”.
Depois de quase todos aceitarem a divisão do calendário blogosférico em a. A. (antes de Abrupto) e d. A. (depois de Abrupto), não seria de recear outra coisa.

Espantosamente, ela move-se!

MOMENTO DE POESIA: Rezam as crónicas que Nero, após mais uma das suas calamitosas incursões no mundo da poesia, apresentou o resultado do seu triste trabalho a Petrónio, pedindo-lhe humildemente a sua opinião. Os versos eram tão horrendos que todos os cortesãos ficaram em silêncio, suspensos para ouvir a resposta do "árbitro das elegâncias". Esta, não poderia ser mais surpreendente: “São bons para a fogueira!”
A multidão, que estava a assistir, ficou estupefacta perante tamanha ousadia, que só poderia ter como resultado a morte de Petrónio.
Nero, vermelho e trémulo, prestes a explodir de raiva, ainda se atreveu a balbuciar algumas palavras, pedindo explicações.
Petrónio não desarmou: “Os teus poemas estão muito acima dos mortais, incluindo Virgílio e até Homero, mas estão abaixo da tua condição de divino.”
Nero, gostou da resposta e pediu uma pira para queimar os versos. A festa pôde continuar...

Vem isto a propósito do ‘Momento de poesia’ no “O Meu Pipi”!

MAUS INSTINTOS: Não, esta não é uma característica exclusiva dos humanos. Estamos habituados a tecer elocuções sobre a natureza humana, sobre aquilo que a distingue em relação aos restantes seres. Essa distinção faz-se pela positiva e pela negativa. Neste último aspecto poderíamos sublinhar a perversidade e a falta de franqueza. Pois bem, o Replicar faz referência a uma história de um touro com maus instintos e falta de franqueza.

PREGUIÇA: Por preguiça não cumpro aquilo a que me propus, olhar atentamente a Blogosfera. O oceano de centenas de blogues da lusosfera é suficiente vasto para que não me aventure para além de certos confins, sob pena de me perder definitivamente. As explorações terão de ser graduais e com a costa à vista, pois na minha trirreme a bússola é coisa que não existe.
No entanto, este é um problema de todos os que se propõe ao mesmo, que o diga o “Posto de escuta”.

DELETADO: O Pedro Lomba fez-me uma referência simpática, só que se enganou no link. Muito naturalmente, o link que estabeleceu foi http://satyricon.blogspot.com, mas este link já foi abandonado há muito tempo. Todos aqueles que lá se dirigiram, depararam com a intrigante mensagem:

Puta que pariu saltitante.
Tem mais de uma semana que estou tentando deletar esta porcaria e nada!

A PLENO VAPOR: Pedro Mexia já recuperou totalmente o ritmo, no seu novo blogue.
A seguir atentamente...

NASCIDO PARA SERVIR: Há blogues que nascem para servir outros blogues. Parece ser o caso do Socio[B]logue...

PRD: Confesso que ao ver esta sigla, a aparecer com frequência, nos últimos tempos, em alguns blogues, me veio à memória o antigo Partido Renovador e, por momentos, pensei que iria ressurgir este partido político de memória tão efémera e atribulada.
Afinal, PRD, significa Pedro Rolo Duarte, que, confesso a minha ignorância, não me diz rigorosamente nada (tenho uma vaga lembrança de ele ter feito um programa de televisão – ou será que estou a confundir?). Adiante, parece que o senhor agora é um reputado jornalista no DN e que desbundou nos blogues. O texto inflamado deste senhor, que não me diz rigorosamente nada, provocou alguma comoção no seio da blogosfera.
Em vez de se fazerem passar por virgens ofendidas, não seria melhor reduzirem o PRD à sua insignificância e perguntarem - ‘Quem é o PRD?’
Ou será que a criatura é mesmo muito importante?

OLHA O VALETE: O Valete é o blogue mais crédulo da blogosfera. Quando digo mais crédulo, não o afirmo no sentido religioso, se bem que o Valete se anuncie pomposamente católico, mas sim no da crendice mais conformada e acéfala dos seus gurus neo-liberais.
Tudo aquilo que venha destas bandas (incluindo a administração norte-americana) é elevado ao estatuto de ‘sagrada escritura’. Para o Valete, as armas de destruição maciça já apareceram, no Iraque, tantas vezes quanto as anunciadas pelos pasquins neo-liberais. Por cada lata de mata-moscas que apareça, ele, pressurosamente, destaca a ‘bold’ a notícia, sem depois se dar à maçada de se retractar. As transcrições das declarações mais incómodas, dos seus ídolos da administração dos EUA, são fidedignas e não cuidadosamente expurgadas do mais embaraçoso que possam conter. Enfim, ele está do lado dos bons e estes têm sempre uma razão suficiente.

O TODO E AS PARTES: Porque é que lendo isoladamente estes blogues dos ex-infames fico com a sensação de que “o todo é mais do que a soma das partes”?

JÁ SÓ FALTA O OUTRO: Mais um ex-infame do triunvirato regressou em corpo inteiro à blogosfera. Ainda que para já muito timidamente. O blogue chama-se “Flor de Obsessão” em homenagem a Nelson Rodrigues. Curiosas estas homenagens a escritores nos primeiros “postes”. Já o Mexia, foi repescar o nome do seu blogue a Ambrose Bierce.
Fico com curiosidade de saber qual vai ser o autor escolhido do terceiro infame...

CUIDADO COM OS JAQUINZINHOS: Alguém se atreveu a insinuar que o “Árbitro das elegâncias” “construiu um mundo de debate e de discussão supérfluos à volta dele para o gozo próprio, ensimesmando-se em discussões estéreis...".

A resposta não veio do próprio visado, este não precisa de descer do seu limbo dourado para se incomodar com ataque tão soez. Para quem belisque Pacheco Pereira, tem um jaquinzinho à perna.

AS LEITURAS DO PROFESSOR MARCELO: Não vou discutir aqui, como no Gato Fedorento, quem primeiro levantou a questão relativa à capacidade sobre-humana de leitura do Professor Marcelo. Ela já se coloca, pelo menos, desde o célebre programa “Exame da semana”, na TSF.
Todos nós gostamos de ouvir o professor, mas que lê verdadeiramente, fica de sobrolho franzido, ao ver a lista impossível de livros da semana, apesar dos esforços que faz para que acreditemos que realmente esboçou mais alguma coisa do que ver a capa de alguns desses livros. Diz que leu na diagonal, outros atreve-se a dizer que ainda não leu todo, que ficou na página tal, etc.
Caro professor Marcelo, sei que não lê blogues (lá virá o dia em que vai fazer o comentário semanal dos milhares de blogues que leu), muito menos este, mas é de uma desonestidade intelectual a toda a prova o frete que faz às editoras e amigos que lhe oferecem os livros, só para que o título seja pronunciado por si.

PÉROLAS DE SABEDORIA: Conta o Animal, dos Marretas, o seguinte, a propósito dos seus alunos:

"No século 15 a impressão de livros era lenta porque os livros eram manuscritos."

Também tive uma pérola destas, este ano:

“A Imprensa dá para fazer bom vinho, vinho de qualidade superior...”

Quem diria?

VOLTA PEDRO, ESTÁS PERDOADO: Consolidou-se o regresso mais desejado da blogosfera, o ex-infame Pedro Mexia. Não se pode dizer que o período de nojo foi muito longo, mas, para quem fazia disto uma rotina diária, deve ter sido uma eternidade. O Pedro Lomba, já fez incursões nos Marretas e prepara o terreno para o regresso pleno. Falta só o mais mimado e convencido deles todos...

Adivinhem quem é?

O ÁRBITRO DAS ELEGÂNCIAS: José Pacheco Pereira desempenha no reino da blogosfera portuguesa, o papel de Petrónio na corte de Nero. É o “árbitro das elegâncias”.
Petrónio, que não foi um autor muito prolixo, conhecemos mal (porque incompleto) “Satyricon”, sofrivelmente adaptado ao cinema por Fellini, permitia-se fazer e desfazer poetas, escritores, filósofos e a reputação social dos notáveis, apenas com um sinal, ou simples comentário. Ele é que definia o bom gosto.
Pacheco Pereira faz o mesmo, diz que vale a pena isto, e toda a gente “corre” a ver; diz, discuta-se aquilo, e todo o rebanho desata a discutir; propõe uma lista de objectos desaparecidos e todos se empenham afincadamente em dar o seu contributo com os objectos possíveis e imaginários.
O mérito vai todo para Pacheco Pereira, mas, como é usual dizer nos nossos dias, corre o risco de matar a “bio-diversidade” da blogosfera.

A FEIRA DAS VAIDADES: O reino da blogosfera parece cada vez mais uma feira de vaidades. Os ilustres, notáveis ou candidatos a notáveis fazem questão de marcar a sua presença com um blogue. Este é o sinal de que está “in”, de que cavalga na onda e, esta, é o que está a dar!
Este blogue é mais um a juntar à barafunda, que se propõe exteriorizar as impressões do autor sobre aquilo que lhe é dado observar... Afinal, também quero fazer parte desta feira! :-)

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