quarta-feira, abril 06, 2005

ENSINO COR-DE-ROSA: Após a vitória do PS, aguardei com alguma expectativa o nome do(a) responsável pela pasta da Educação. Quando, após a longa espera, o nome de Maria de Lurdes Rodrigues surgiu, continuei expectante, pois o nome não me era familiar. Havia que esperar as primeiras medidas...
Pelo menos fiquei algo tranquilo ao saber que Ana Benavente não fazia parte do núcleo próximo a José Sócrates, já que desta senhora só guardamos má memória.
Entretanto foram nomeados os Secretários de Estado. Aqui a minha preocupação aumentou. Conheço bem Valter Lemos, uma excelente pessoa e profissional dedicado e competente no seu Instituto Politécnico de Castelo Branco, mas com ideias pedagógicas que não se distanciam de todas aquelas que conduziram a educação do Básico ao estado lastimável em que se encontra. A ênfase no aluno que aprende sempre alguma coisa, e toda a parafernália que acompanha este discurso: valorização dos valores e atitudes; competências e destrezas (digam lá que não é bonito!). A aprendizagem de conhecimentos e conteúdos surge como um apêndice doloroso que paulatinamente vem sendo extirpado, para alívio das pobres criancinhas.
Esta política das Escolas Superiores de Educação redundou num ensino em que os professores cada vez se sentem mais desorientados, pois leccionam tudo, menos aquilo que aprenderam. Conheço um professor de Geografia que lecciona 6 horas de Teatro, 6 horas de Estudo Acompanhado, 4 horas de Área Projecto e... 4 horas de Geografia!
Os sinais ultimamente dados pelo Ministério não foram animadores. Já se questiona a manutenção dos exames no 9º ano (certamente porque os meninos de 15 anos ficam muito traumatizados com a experiência) e anuncia-se ruidosamente um programa de ocupação das crianças na falta de algum professor.
Quanto aos exames, a questão já é velha e não merece mais discussão. Mas desde já afirmo que para avaliar os conhecimentos a nivel global das escolas, é infinitamente mais fiável um exame que contribua para a avaliação final do aluno do que aquelas ridículas provas de aferição cujo anonimato e ausência de consequências se traduzia numa descarada brincadeira, proporcionando respostas imaginativas mas que não eram porventura aquelas que os nossos líricos da pedagogia esperavam.
A ocupação dos alunos nos furos é daquelas coisas que aparentemente soa muito bem mas cuja prática resulta num tormento para o professor de Português que tem de ir entreter os meninos de uma turma que não é dele e que tiveram furo a Matemática. Deixemos ver como querem levar isto à prática...
Os alunos vivem sobrecarregados de horas lectivas, certamente por pressão dos pais que não têm forma de assegurar a protecção e cuidado dos filhos, dentro do horário de trabalho. Então o expediente é mantê-los na Escola com uma carga horária que abrange 15 disciplinas!
A saber o que estuda um aluno do 3º ciclo: L. Portuguesa; L. Estrangeira I (Ing.); L. Estrangeira II (Fr.); História; Geografia; Matemática; C. Naturais; C. Físico-Químicas; Ed. Visual; Ed. Tecnológica; Ed. Física; E. Moral Religiosa; Estudo Acompanhado e Formação Cívica.
Para conseguir este leque curricular tornou-se necessário reduzir a carga horária das disciplinas mais tradicionais. E se o Português e a Matemática não foram muito afectados, pois os péssimos resultados a estas disciplinas a isso não aconselharia, já o mesmo não se pode dizer do Inglês, do Francês, História, Geografia, Ciências, etc. que em muitos casos viram o seu horário reduzido a um bloco semanal de 90 minutos! O professor só vêos seus alunos uma vez por semana durante 90 minutos. Se acontecer algum imprevisto nesse dia, já só na semana seguinte se pode compor... Isto cria um distanciamento, um atropelo, na vã tentativa de leccionar os conteúdos que,na maioria dos casos, não minguaram como os horários. Enfim, é inimaginável por quem não passa pela experiência.
Muito mais haveria a dizer, mas o post já vai longo.
Só fica a advertência: CUIDADO COM O ENSINO COR-DE-ROSA!!!