sexta-feira, outubro 24, 2003

URDIDURA: Eu era daqueles que sorria ironicamente quando ouvia falar da tese da cabala, a propósito do envolvimento de alguns dos dirigentes do PS no já tenebroso processo da "Casa Pia". Achava que a cabala ou a urdidura (que termo!) não era mais que a inabilidade e falta de senso político dos actuais dirigentes do PS.
Esta desorientação parece evidente. Todavia, este episódio da revelação integral das escutas, pelo modo, pela selectividade e pela frieza terapêutica com que foi administrado a uma comunicação social ávida de sangue e cujos escrúpulos reduzidos ao nada absoluto, ou, pior ainda, invertidos pela lógica de audiências de uma sociedade já de si cada vez mais despojada de quaisquer referências e valores, faz-me esmorecer o sorriso...
Questiono-me, a quem servem estas revelações? Como é possível isto acontecer? Não foram frases avulsas do processo, que qualquer funcionário menos escrupuloso poderia ter soltado, foram as alegações completas do Ministério Público e a transcrição integral das escutas que foram publicadas nas 12 páginas do "24 Horas".
Mais me espanto com os dividendos políticos que o insuspeito Pacheco Pereira tenta retirar da divulgação destas conversas privadas. Ainda me lembro da revolta que manifestou, com toda a razão, quando a SIC utilizava microfones de alta sensibilidade para escutar as conversas que os deputados (e ele próprio) tinham em privado no Parlamento. Depois fala-nos que não quer cair em duplicidades...