terça-feira, setembro 16, 2003

SACRILÉGIOS: O "Jaquinzinhos" referiu este blogue como um daqueles que vêem certos assuntos como sacrilégios. O assunto em questão vem a propósito do golpe de Pinochet que terminou com a vida de Salvador Allende e o regime legalmente no poder.
Aqui, referiu-se apenas que um acontecimento recente, por muito importante que seja, não apaga outro. E que é muito mais frequente a direita contextuar a morte de Salvador Allende, como faz, surpreendentemente, o "Jaquinzinhos", do que a esquerda relativamente ao 11 de Setembro de 2001.
Aliás, concordo plenamente com Pacheco Pereira quando afirma que a blogosfera é o último reduto onde ainda resta uma nítida distinção entre esquerda e direita. Antes de frequentar estas paragens, sempre me assumi como um social democrata, naquilo que de verdadeiro significado tem esta palavra e cujo paradigma mais aproximado seria um país como a Suécia, como também já aqui afirmei. Porém, fiquei estarrecido com a abundância de neoliberais que por cá pululam, todos crentes, sem qualquer reserva, que a felicidade dos povos depende da aplicação bruta, nas sociedades, da lei da oferta e da procura. Fiquei ciente que não se aprende nada com a história (já alguma vez estudaram a crise de 1929?) e que a ignorância do nosso passado é quase assumida por estes jovens neoliberais como pré-requisito para a defesa de uma espécie de movimento 'avant-garde' político-cultural. É este movimento que me faz eriçar todas as defesas contra aquilo que abomino - a lei do mais forte; o salve-se quem puder; dos fracos não reza a história, etc.
Sacrilégio, para mim, é a defesa destes valores sem pestanejar. Quanto ao resto, julgo que é de um revisionismo histórico inqualificável esboçar a defesa de um regime como o de Pinochet, porque supostamente melhorou a economia chilena. O mesmo fizeram Salazar, Franco, Mussolini e Hitler. Todos eles tiraram o seu país do caos e da anarquia (cá está a falta de conhecimento histórico!?), mas isso não justifica, nem sequer atenua, o abominável destes regimes.
Já que falei em abominável, para que conste, aplico este termo também ao regime de Fidel, ou norte-coreano, ou qualquer regime ditatorial, seja de esquerda ou de direita!