quinta-feira, março 10, 2005

CAVACO SILVA: Cavaco Silva, com um enorme fair play, declarou que desejava sucesso ao Governo que vai tomar posse. Esta postura suprapartidária parece indiciar que a sua candidatura presidencial prossegue o seu caminho, posicionando-se para angariar votos para além da sua cor partidária.
Se recapitularmos toda a recente acção de Cavaco Silva, observamos que todos os passos que deu foram meticulosamente calculados e nenhum foi em falso.
Vejamos. Havia que extirpar o mal, que parecia sem remédio, dentro do PSD - Santana Lopes. O singelo artigo no Expresso contribuiu para ajudar o Presidente Sampaio a decidir-se pela dissolução da Assembleia da República. Quando Santana Lopes, de forma ingénua, procurou envolvê-lo na campanha partidária, saltou a tempo do retrato, para, de forma coerente, não macular a sua imagem.
O resultado foi o que se viu. O PSD sofreu uma derrota estrepitosa. Todavia, o partido naturalmente desembaraçou-se do incómodo Santana Lopes e poderá assim recuperar paulatinamente a credibilidade de outrora, debaixo da nova liderança que se avizinha.
Ser apoiado pelo novo PSD não é o mesmo que ser apoiado pelo PSD de Santana.
Será que Cavaco Silva foi obreiro consciente de tudo isto? Torna-se até assustador imaginar que sim. Que homem extraordinário teria de ser para, com tamanha economia de meios e intervenções, conseguir o pleno nos seus objectivos e ficar numa posição mais do que privilegiada para ascender à Presidência da República.
Inclino-me para uma explicação mais humana, mas ainda assim não destituída de grande mérito. Cavaco aproveitou-se das circunstâncias fortuitas e soube escolher o lado certo da história, como hoje é habitual dizer-se.
Em todo o caso, não vislumbro adversário à altura para ele na corrida presidencial. Resta-me quase só desejar-lhe, também com todo o fair play, felicidades para o seu mandato presidencial.